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Amazônia Legal exporta energia limpa para o resto do país, mas consome combustível fóssil

Entenda as particularidades da relação entre consumo e geração de energia na região da Amazônia Legal.

O Brasil possui uma matriz elétrica altamente renovável, com 82% de sua composição dividida entre geração hidrelétrica, solar, eólica e demais fontes renováveis. A Amazônia Legal desempenha um papel chave na geração de energia elétrica renovável no Brasil, abrigando quatro das cinco principais usinas hidrelétricas (Belo Monte, Tucuruí, Jirau e Santo Antônio).

Os estados da Amazônia Legal foram responsáveis por mais de 27% da geração de energia elétrica nacional em 2021, mas consumiram apenas 11% do consumo total do país.  A Amazônia exporta energia para o resto do país.

Entre 2012 e 2021, a geração elétrica na Amazônia Legal mais do que dobrou enquanto no resto do Brasil a geração elétrica aumentou apenas 2% no mesmo período. A participação da Amazônia Legal na geração de eletricidade no Brasil passou de 15% em 2012 para 27% em 2021. Por outro lado, sua participação sobre consumo nacional não apresentou variação significativa no período, ficando em torno de 11% do consumo total do país no período analisado.

Fica claro, portanto, que o aumento na capacidade de geração de eletricidade na Amazônia Legal não está sendo destinado ao atendimento da população local. E mesmo com a região sendo exportadora de energia, mais de 14% de sua população não tem acesso a essa energia gerada no Sistema Interligado Nacional (SIN).

Se, por um lado, a Amazônia configura um grande exportador de energia para o resto do país, por outro, internamente, parte da sua população fica desconectada.

Essa distorção obriga cerca de 3 milhões de habitantes da região a serem abastecidos por usinas locais nos Sistemas Isolados. Desta forma, apesar de exportar energia renovável para o resto do país, a Amazônia utiliza combustível fóssil, poluente e caro, para abastecer parte da população local, a parte não conectada ao SIN.

Apesar de o consumo dos Sistemas Isolados representar apenas 0,6% do consumo total do Brasil em 2021, os Sistemas Isolados emitiram uma quantidade de gases de efeito estufa equivalente a cerca de 10% do que é emitido pelo SIN. Somam-se a isso as emissões associadas ao transporte do diesel até as usinas, feito por vias fluviais ou terrestres.

Entre as soluções apontadas no estudo do CPI, “Rio de diesel na Amazônia Legal: Por que a região com as maiores hidrelétricas do país depende de combustível caro e poluente?”, está a interligação da região atendida por um Sistema Isolado ao SIN, proporcionando maior confiabilidade e qualidade no fornecimento de energia elétrica. Estimulando, assim, a atividade industrial e de comércio e serviços. Outra solução é aumentar a participação de fontes renováveis na geração de energia em regiões em que a interconexão não é uma opção.

O gráfico abaixo mostra a produção e o consumo de eletricidade na Amazônia Legal em relação ao país entre 2012 e 2021.

Cerca de 95% da geração da Amazônia Legal tem origem na fonte hidro (82%), gás natural e óleo diesel. Já no resto do Brasil, cerca de 75% da geração tem origem na fonte hidro (46%), eólica e gás natural. O perfil de consumo da energia elétrica na Amazônia Legal também apresenta um panorama distinto do restante do Brasil, com exceção do Pará.  No Brasil, a indústria é o principal consumidor de eletricidade (36% do total consumido em 2021). Na Amazônia Legal, com exceção do Pará, a parcela do consumo de eletricidade da indústria em relação ao consumo total é de apenas 20% e há uma predominância do consumo da classe residencial com 40% do total consumido. 


Autoras:

Amanda Schutze atua como coordenadora de avaliação de política pública com foco em energia no CPI/PUC-Rio. Amanda é doutora em economia pela PUC-Rio, mestre pela EPGE/FGV-RJ e graduada em economia pela PUC-Rio.

Rhayana Holz atua como analista com foco em energia no CPI/PUC-Rio. Rhayana é mestre em economia pela Universidade Federal de Viçosa e graduada em economia pela Universidade Federal de Ouro Preto.


Os dados de energia utilizados são compilados do EPE através do pacote datazoom.amazonia no R.

Quer explorar mais sobre os micro dados da Amazônia Legal? Veja como acessando a nossa página no Github aqui.